A Rússia nas vésperas da Revolução.
O “Domingo Sangrento”
No início do século XX, a Rússia era um extenso império territorial que se encontrava numa situação de atraso em relação às mudanças ocorridas nos países da Europa ocidental, devido a: uma monarquia absoluta, chefiada por um imperador, o czar, que concentrava em si todos os poderes; uma sociedade hierarquizada: a Igreja, a Coroa e os aristocratas possuíam a maioria das terras; os camponeses (cerca de 80% da população) trabalhavam nestas terras e viviam numa situação de miséria extrema; os operários (cerca de 3 milhões) levavam uma vida de miséria e a burguesia, minoritária, tinha pouco poder económico e político; uma agricultura arcaica de pouca produtividade que era, no entanto, a base da vida económica do país; uma industrialização incipiente, iniciada apenas no final só século XIX.
Os principais centros de comércio localizavam-se nas grandes cidades (como Moscovo e São Petersburgo) pois não existiam boas vias de comunicação, de maneira a espalhar o comércio pelo país. A 22 de Janeiro de 1905 (9 de Janeiro pelo antigo calendário em vigor na Rússia nessa época),domingo, realizou-se uma manifestação em São Petersburgo, capital do império, para entregar ao czar no poder, Nicolau II, uma petição assinada por milhares de trabalhadores que reclamavam: a melhoria das condições de vida; o fim da censura; a constituição de um parlamento (Duma).
A guarda do czar, em resposta à manifestação, disparou sobre os manifestantes, matando milhares de trabalhadores.
Este dia ficou conhecido como “Domingo Sangrento”.
Em consequência, ocorreram várias greves e surgiram conselhos de operários, de camponeses e de soldados (os sovietes) que difundiam ideias revolucionárias. Os sovietes eram controlados pelo partido bolchevique, cuja chefia tinha sido confiada a Lenine, em 1903. Embora o czar tenha prometido a criação de uma Duma, a existência de partidos políticos e de uma constituição, os revolucionários organizaram uma greve geral em Novembro.
Como resposta, os sovietes foram ilegalizados e os líderes da oposição, incluindo Lenine, foram presos e exilados. Das promessas do czar apenas se manteve a Duma, entre 1906 e 1917.
Mas esta era controlada pelos aristocratas e pelo czar que tinha o poder de a dissolver.
A participação da Rússia na I Guerra Mundial agravou a situação de miséria do seu povo, não só devido ao elevado número de mortos como também à escassez de alimentos e à subida dos preços.
A Revolução “Burguesa” e a Revolução Bolchevique
A crise económica e a agitação social foram aproveitadas pelas forças revolucionárias para divulgar as ideias liberais e socialistas, desencadeando manifestações e greves por todo o país.
A 12 de Março (27 de Fevereiro) de 1917, milhares de manifestantes invadiram a sede da Duma em Petrogrado (São Petersburgo).
Formaram-se dois comités: um constituído pelos deputados moderados da Duma e outro constituído pelos sovietes de Petrogrado.
Este acontecimento ficou conhecido como Revolução “Burguesa”, Revolução Liberal ou Revolução de Fevereiro.
A 15 (2) de Março, o czarismo chegou ao fim: o czar Nicolau II abdicou e a Duma nomeou um governo provisório.
Institui-se um regime liberal parlamentar. Porém, o novo governo começou logo a ser contestado pelo comité dos sovietes.
Estes eram contra a intenção do governo de manter a Rússia na I Guerra Mundial e reclamavam a legitimidade para governar. Lenine, já regressado do exílio em Londres, defendia uma revolução que entregasse todo o poder aos sovietes.
De 6 a 8 de Novembro (24 a 26 de Outubro) deu-se a chamada Revolução de Outubro ou Revolução Bolchevique.
A 7 de Novembro (25 de Outubro) a polícia militar bolchevique ocupou pontos estratégicos da cidade, prendeu os ministros do governo provisório e dissolveu a Duma.
O poder governamental foi entregue, no dia 8 (26) ao Conselho dos Comissários do Povo, liderado por Lenine.
Com esta Revolução iniciou-se um período de profundas transformações políticas.
A Rússia transformou-se numa República Soviética, em que os sovietes tinham mais poder que a Assembleia Constituinte, saída das eleições.
Entre as medidas que foram tomadas pelo governo bolchevique encontramos:
paz imediata com a Alemanha (Tratado de Brest-Litovsk);
abolição de toda a propriedade privada, como fábricas, terras e minas, que foram nacionalizadas sem o pagamento de indemnizações aos seus proprietários;
requisição pelo Estado das colheitas agrícolas, exceptuando o indispensável para consumo próprio.
Lenine adotou, assim, as ideias marxistas e adaptou-as à realidade russa, surgindo, assim, o Marxismo-Leninismo.
O seu objetivo imediato era a Ditadura do Proletariado, que seria uma fase de transição para o seu objetivo final – o Comunismo.
No Comunismo o operariado seria a classe dominante e todo o poder da burguesia (capital, terras e fábricas) seria transferido para o Estado, sendo que este tinha de garantir o bem-estar de toda a população.
Do comunismo de guerra à NEP.
A construção da URSS
As medidas tomadas por Lenine conduziram a Rússia a um período de guerra civil (1918-1920) entre os defensores do antigo regime (russos “brancos”), que contavam com o apoio de países como a França, a Grã-Bretanha e os EUA, que receavam a expansão das ideias revolucionárias, e os defensores do atual regime (russos “vermelhos”).
A guerra civil e a forte oposição externa levaram Lenine a radicalizar as suas posições, adotando um “comunismo de guerra” (1918-1921), tomando várias medidas, tais como:
a proibição de outros partidos políticos, além do Partido Comunista-Bolchevista;
a instauração da censura; a constituição de uma polícia política – Tcheka; a perseguição, a prisão, a tortura e a morte dos adversários políticos.
A guerra civil terminou em 1920, com a vitória do Exército Vermelho (russos “vermelhos”) e arruinou o país.
O “comunismo de guerra” contribui para aumentar o descontentamento da população, surgindo revoltas, greves e manifestações.
Por isso, Lenine implantou a Nova Política Económica (NEP), retornando ao “capitalismo limitado por um tempo limitado”. Com a NEP, embora o Estado continuasse a controlar os principais sectores da economia, este permitia: pequenas unidades privadas de produção agrícola e industrial; a entrada de capitais e técnicos estrangeiros; alguma liberdade de comércio, como por exemplo, a venda livre de produtos agrícolas.
Com a implementação da NEP, os níveis de produção aumentaram e, consequentemente, permitiu a melhoria das condições de vida da população e estabilidade política.
Em 1922, para atrair os povos que tinham sido anexados à Rússia e que possuíam etnias, línguas, costumes e religiões diferentes para o “espírito bolchevista”, Lenine conseguiu que fosse aprovada a fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A sua Constituição, aprovada em 1923, estabeleceu a Federação de Estados e reconheceu as diferentes nacionalidades e a diversidade cultural.
O “Domingo Sangrento”
No início do século XX, a Rússia era um extenso império territorial que se encontrava numa situação de atraso em relação às mudanças ocorridas nos países da Europa ocidental, devido a: uma monarquia absoluta, chefiada por um imperador, o czar, que concentrava em si todos os poderes; uma sociedade hierarquizada: a Igreja, a Coroa e os aristocratas possuíam a maioria das terras; os camponeses (cerca de 80% da população) trabalhavam nestas terras e viviam numa situação de miséria extrema; os operários (cerca de 3 milhões) levavam uma vida de miséria e a burguesia, minoritária, tinha pouco poder económico e político; uma agricultura arcaica de pouca produtividade que era, no entanto, a base da vida económica do país; uma industrialização incipiente, iniciada apenas no final só século XIX.
Os principais centros de comércio localizavam-se nas grandes cidades (como Moscovo e São Petersburgo) pois não existiam boas vias de comunicação, de maneira a espalhar o comércio pelo país. A 22 de Janeiro de 1905 (9 de Janeiro pelo antigo calendário em vigor na Rússia nessa época),domingo, realizou-se uma manifestação em São Petersburgo, capital do império, para entregar ao czar no poder, Nicolau II, uma petição assinada por milhares de trabalhadores que reclamavam: a melhoria das condições de vida; o fim da censura; a constituição de um parlamento (Duma).
A guarda do czar, em resposta à manifestação, disparou sobre os manifestantes, matando milhares de trabalhadores.
Este dia ficou conhecido como “Domingo Sangrento”.
Em consequência, ocorreram várias greves e surgiram conselhos de operários, de camponeses e de soldados (os sovietes) que difundiam ideias revolucionárias. Os sovietes eram controlados pelo partido bolchevique, cuja chefia tinha sido confiada a Lenine, em 1903. Embora o czar tenha prometido a criação de uma Duma, a existência de partidos políticos e de uma constituição, os revolucionários organizaram uma greve geral em Novembro.
Como resposta, os sovietes foram ilegalizados e os líderes da oposição, incluindo Lenine, foram presos e exilados. Das promessas do czar apenas se manteve a Duma, entre 1906 e 1917.
Mas esta era controlada pelos aristocratas e pelo czar que tinha o poder de a dissolver.
A participação da Rússia na I Guerra Mundial agravou a situação de miséria do seu povo, não só devido ao elevado número de mortos como também à escassez de alimentos e à subida dos preços.
A Revolução “Burguesa” e a Revolução Bolchevique
A crise económica e a agitação social foram aproveitadas pelas forças revolucionárias para divulgar as ideias liberais e socialistas, desencadeando manifestações e greves por todo o país.
A 12 de Março (27 de Fevereiro) de 1917, milhares de manifestantes invadiram a sede da Duma em Petrogrado (São Petersburgo).
Formaram-se dois comités: um constituído pelos deputados moderados da Duma e outro constituído pelos sovietes de Petrogrado.
Este acontecimento ficou conhecido como Revolução “Burguesa”, Revolução Liberal ou Revolução de Fevereiro.
A 15 (2) de Março, o czarismo chegou ao fim: o czar Nicolau II abdicou e a Duma nomeou um governo provisório.
Institui-se um regime liberal parlamentar. Porém, o novo governo começou logo a ser contestado pelo comité dos sovietes.
Estes eram contra a intenção do governo de manter a Rússia na I Guerra Mundial e reclamavam a legitimidade para governar. Lenine, já regressado do exílio em Londres, defendia uma revolução que entregasse todo o poder aos sovietes.
De 6 a 8 de Novembro (24 a 26 de Outubro) deu-se a chamada Revolução de Outubro ou Revolução Bolchevique.
A 7 de Novembro (25 de Outubro) a polícia militar bolchevique ocupou pontos estratégicos da cidade, prendeu os ministros do governo provisório e dissolveu a Duma.
O poder governamental foi entregue, no dia 8 (26) ao Conselho dos Comissários do Povo, liderado por Lenine.
Com esta Revolução iniciou-se um período de profundas transformações políticas.
A Rússia transformou-se numa República Soviética, em que os sovietes tinham mais poder que a Assembleia Constituinte, saída das eleições.
Entre as medidas que foram tomadas pelo governo bolchevique encontramos:
paz imediata com a Alemanha (Tratado de Brest-Litovsk);
abolição de toda a propriedade privada, como fábricas, terras e minas, que foram nacionalizadas sem o pagamento de indemnizações aos seus proprietários;
requisição pelo Estado das colheitas agrícolas, exceptuando o indispensável para consumo próprio.
Lenine adotou, assim, as ideias marxistas e adaptou-as à realidade russa, surgindo, assim, o Marxismo-Leninismo.
O seu objetivo imediato era a Ditadura do Proletariado, que seria uma fase de transição para o seu objetivo final – o Comunismo.
No Comunismo o operariado seria a classe dominante e todo o poder da burguesia (capital, terras e fábricas) seria transferido para o Estado, sendo que este tinha de garantir o bem-estar de toda a população.
Do comunismo de guerra à NEP.
A construção da URSS
As medidas tomadas por Lenine conduziram a Rússia a um período de guerra civil (1918-1920) entre os defensores do antigo regime (russos “brancos”), que contavam com o apoio de países como a França, a Grã-Bretanha e os EUA, que receavam a expansão das ideias revolucionárias, e os defensores do atual regime (russos “vermelhos”).
A guerra civil e a forte oposição externa levaram Lenine a radicalizar as suas posições, adotando um “comunismo de guerra” (1918-1921), tomando várias medidas, tais como:
a proibição de outros partidos políticos, além do Partido Comunista-Bolchevista;
a instauração da censura; a constituição de uma polícia política – Tcheka; a perseguição, a prisão, a tortura e a morte dos adversários políticos.
A guerra civil terminou em 1920, com a vitória do Exército Vermelho (russos “vermelhos”) e arruinou o país.
O “comunismo de guerra” contribui para aumentar o descontentamento da população, surgindo revoltas, greves e manifestações.
Por isso, Lenine implantou a Nova Política Económica (NEP), retornando ao “capitalismo limitado por um tempo limitado”. Com a NEP, embora o Estado continuasse a controlar os principais sectores da economia, este permitia: pequenas unidades privadas de produção agrícola e industrial; a entrada de capitais e técnicos estrangeiros; alguma liberdade de comércio, como por exemplo, a venda livre de produtos agrícolas.
Com a implementação da NEP, os níveis de produção aumentaram e, consequentemente, permitiu a melhoria das condições de vida da população e estabilidade política.
Em 1922, para atrair os povos que tinham sido anexados à Rússia e que possuíam etnias, línguas, costumes e religiões diferentes para o “espírito bolchevista”, Lenine conseguiu que fosse aprovada a fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A sua Constituição, aprovada em 1923, estabeleceu a Federação de Estados e reconheceu as diferentes nacionalidades e a diversidade cultural.
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