Portugueses!
Um Panfleto Eleitoral da União Nacional
Terminada a IIª Guerra Mundial, o Estado Novo encontrava-se perante a mais grave crise desde a sua fundação. As expectativas de abertura política nascidas na sequência da vitória aliada pareciam gorar-se e a Oposição tentava congregar as suas forças na esperança de criar condições para a democratização do regime.
É neste sentido que, em 1948, surge a candidatura do general José Norton de Matos (1867-1955) às eleições para a presidência da República.
Personagem destacada da 1ª República, obrigado a retirar-se da vida pública após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, preso e deportado para os Açores, Norton de Matos, assumia-se então como uma das mais destacadas e consensuais figuras da oposição a Salazar, tendo a sua candidatura conseguido obter significativa adesão popular. Todavia, mais tarde, o velho general viria a renunciar ao acto eleitoral por considerar não se encontrarem garantidas as condições para uma disputa livre e justa.
O panfleto da União Nacional que apresentamos, cuja distribuição não foi autorizada pelo Governo Civil de Lisboa, devido à utilização de expressões consideradas menos adequadas, ilustra, por um lado, a aparente normalidade do ambiente eleitoral que então se vivia e, por outro, a dureza do discurso "político" utilizado pelas forças que suportavam o regime. «A Oposição ao Estado Novo, composta de pessoas das mais variadas cores políticas - comunistas, socialistas e demo-liberais - procura especular com tudo quanto possa constituir motivo de descontentamento popular.
Falar é fácil. As palavras não custam dinheiro e leva-as o vento.
Se eles vencessem, nunca mais se lembrariam do que prometeram, nem o Zé Povinho saberia a quem pedir o cumprimento das promessas... Deixariam os trabalhadores de trabalhar? É o deixavas... Mas talvez perdessem o abono de família, a previdência e as casas económicas, porque destas, com certeza, nunca mais se construiria mais nenhuma! (Lembras-te, camarada, do escândalo dos Bairros Sociais?) Deixaria o lavrador de pagar contribuições? Pois não! Havia de pagá-las com língua de palmo, e dobradas, para satisfazer as exigências de todas as vítimas do Estado Novo, revolucionários demitidos a pedirem os ordenados de 22 anos... E o que sobrasse seria tão bem administrado como era antes do 28 de Maio! (Lembras-te, amigo, do estado das estradas?) Deixaria o comerciante de ter preços tabelados e fiscalização? É possível que nos primeiros tempos os ricaços que cercam o «Candidato» e subsidiam a propaganda dele (tudo grandes comerciantes e industriais feridos por medidas do Estado Novo contra o açambarcamento e especulação) conseguissem acabar com os tabelamentos e a fiscalização da Intendência. Então o povinho veria o que era bom... para os democratas merceeiros! Mas o escândalo seria tão grande que os socialistas e os comunistas haviam de aproveitar a deixa para a sua campanha e uma onda de fuiror popular obrigaria o Estado a empregar a violência contra o comércio e a indústria, vitimando mesmo os honrados. Deixaria o funcionalismo de ter dificuldades? Espera por essa! A desordem, a confusão e a barafunda foram sempre favoráveis à alta do custo de vida. As greves, que não faltariam, desorganizariam a produção. As receitas do Estado fatalmente diminuiriam, mas em compensação, no regabofe das indemnizações aos amigos, aumentavam as despesas. E se subissem alguma coisa os ordenados, muito mais subiria a vida. Sem falar agora na desordem nos serviços, no compadrio, nas colocações, nas perseguições e vexames a todos os funcionários cujos lugares fossem cobiçados... A verdade, portugueses, é que Norton de Matos não representa nenhuma esperança de melhoria. A sua vitória seria um cataclismo. As lutas, as desordens, as greves cairiam sobre Portugal. Seriam incendiadas as igrejas e assassinados muitos homens honrados. Seriam dadas largas a muitos malfeitores,
A vitória de Norton seria a vitória do Ódio, do Crime e da Destruição.
Mesmo que ele não quisesse, coitado, com os seus 82 anos decrépitos que poderia fazer? Só há um caminho:
Votar pelo Estado Novo, que quer dizer DEUS, PÁTRIA e FAMÍLIA!
Votar por CARMONA!
Votar pela PAZ DE PORTUGAL!
Um Panfleto Eleitoral da União Nacional
Terminada a IIª Guerra Mundial, o Estado Novo encontrava-se perante a mais grave crise desde a sua fundação. As expectativas de abertura política nascidas na sequência da vitória aliada pareciam gorar-se e a Oposição tentava congregar as suas forças na esperança de criar condições para a democratização do regime.
É neste sentido que, em 1948, surge a candidatura do general José Norton de Matos (1867-1955) às eleições para a presidência da República.
Personagem destacada da 1ª República, obrigado a retirar-se da vida pública após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, preso e deportado para os Açores, Norton de Matos, assumia-se então como uma das mais destacadas e consensuais figuras da oposição a Salazar, tendo a sua candidatura conseguido obter significativa adesão popular. Todavia, mais tarde, o velho general viria a renunciar ao acto eleitoral por considerar não se encontrarem garantidas as condições para uma disputa livre e justa.
O panfleto da União Nacional que apresentamos, cuja distribuição não foi autorizada pelo Governo Civil de Lisboa, devido à utilização de expressões consideradas menos adequadas, ilustra, por um lado, a aparente normalidade do ambiente eleitoral que então se vivia e, por outro, a dureza do discurso "político" utilizado pelas forças que suportavam o regime. «A Oposição ao Estado Novo, composta de pessoas das mais variadas cores políticas - comunistas, socialistas e demo-liberais - procura especular com tudo quanto possa constituir motivo de descontentamento popular.
Falar é fácil. As palavras não custam dinheiro e leva-as o vento.
Se eles vencessem, nunca mais se lembrariam do que prometeram, nem o Zé Povinho saberia a quem pedir o cumprimento das promessas... Deixariam os trabalhadores de trabalhar? É o deixavas... Mas talvez perdessem o abono de família, a previdência e as casas económicas, porque destas, com certeza, nunca mais se construiria mais nenhuma! (Lembras-te, camarada, do escândalo dos Bairros Sociais?) Deixaria o lavrador de pagar contribuições? Pois não! Havia de pagá-las com língua de palmo, e dobradas, para satisfazer as exigências de todas as vítimas do Estado Novo, revolucionários demitidos a pedirem os ordenados de 22 anos... E o que sobrasse seria tão bem administrado como era antes do 28 de Maio! (Lembras-te, amigo, do estado das estradas?) Deixaria o comerciante de ter preços tabelados e fiscalização? É possível que nos primeiros tempos os ricaços que cercam o «Candidato» e subsidiam a propaganda dele (tudo grandes comerciantes e industriais feridos por medidas do Estado Novo contra o açambarcamento e especulação) conseguissem acabar com os tabelamentos e a fiscalização da Intendência. Então o povinho veria o que era bom... para os democratas merceeiros! Mas o escândalo seria tão grande que os socialistas e os comunistas haviam de aproveitar a deixa para a sua campanha e uma onda de fuiror popular obrigaria o Estado a empregar a violência contra o comércio e a indústria, vitimando mesmo os honrados. Deixaria o funcionalismo de ter dificuldades? Espera por essa! A desordem, a confusão e a barafunda foram sempre favoráveis à alta do custo de vida. As greves, que não faltariam, desorganizariam a produção. As receitas do Estado fatalmente diminuiriam, mas em compensação, no regabofe das indemnizações aos amigos, aumentavam as despesas. E se subissem alguma coisa os ordenados, muito mais subiria a vida. Sem falar agora na desordem nos serviços, no compadrio, nas colocações, nas perseguições e vexames a todos os funcionários cujos lugares fossem cobiçados... A verdade, portugueses, é que Norton de Matos não representa nenhuma esperança de melhoria. A sua vitória seria um cataclismo. As lutas, as desordens, as greves cairiam sobre Portugal. Seriam incendiadas as igrejas e assassinados muitos homens honrados. Seriam dadas largas a muitos malfeitores,
A vitória de Norton seria a vitória do Ódio, do Crime e da Destruição.
Mesmo que ele não quisesse, coitado, com os seus 82 anos decrépitos que poderia fazer? Só há um caminho:
Votar pelo Estado Novo, que quer dizer DEUS, PÁTRIA e FAMÍLIA!
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