domingo, 22 de dezembro de 2013

AS 7 LIÇÕES DO PROFESSOR SALAZAR

Pósteres do Estado Novo, Portugal:- Em 1935, é editado o cartaz Portugal não é um país pequeno. Em 1938, são editados sete cartazes sob o título A Lição de Salazar, assinalando os dez anos de governo de Salazar. Os cartazes destinavam-se a ser distribuídos pelas escolas de Portugal e colónias.

FINANÇAS 
"Graças à restauração financeira, iniciada em 1928, os títulos do estado e a moeda portuguesa fortes pela modelar administração e pelas reservas de ouro , são hoje dos mais acreditados no mundo"
À desorganização económica e financeira da 1ª República sucede a organização financeira imposta pelo Regime Salazarista.


 ESTRADAS- 
" Onde eram escalvados os montes, ressequidos os campos e intransitáveis os caminhos, já reverdecem pinhais, brilham louras searas e magníficas estradas cortam Portugal de Lés a Lés! "
 Os cartazes comparam, a partir de uma imagem cinzenta e triste da época da 1ª República, o excelente trabalho a propagandear pelo regime salazarista.





 -OBRAS- 
" Do abandono dos serviços públicos, e das ruínas, sinais de desordem e de miséria, o Estado Novo ao mesmo tempo que edifica faz renascer o património artístico e histórico da nação! "
 A obra do Estado Novo foi então glorificada nestes cartazes, salientando sempre a acção do ditador no sentido de desenvolver o país, ao mesmo tempo que o pacificava em termos sociais – o salvador da Pátria.





 -TROPA-
 " Em contraste com o zero da força armada, a que os partidos a haviam reduzido, o Estado Novo assegura, em todos os campos, com os mais eficientes meios técnicos, a defesa da Nação e do Império!"
 No Estado Novo, quem prestasse serviço militar teria emprego garantido quando voltasse, pois Salazar considerava o regime militar de extrema importância. Mas mesmo assim muita da população preferia ser livre e não ter emprego depois de voltar da tropa, ou seja, não correr o risco da morte em defesa da Pátria.



-TRABALHO- 

" Com o Estado Novo Corporativo inicia-se uma era de dignificação e de trabalho e de justiça social "
 O corporativismo promovia, assim, a harmonia social, aspecto que se opunha ao clima de confrontação social da 1ª República, permitindo uma nova ordem, a justiça social e o progresso de todas as camadas da população.



 -PORTOS-
 " Não havia portos que satisfizessem as exigências da economia nacional ou que ao menos servissem de apoio à rude faina dos nossos pescadores. Está a construí-los o Estado Novo, e já os maiores transtlânticos do mundo podem acostar aos cais de Portugal"
 Esta Lição do professor Salazar destinava-se a glorificar a obra feita até então por Salazar, desde o campo económico-financeiro às obras públicas como os portos – mais uma manobra de propaganda.




 -DEUS- 

O último cartaz da série, “Deus, Pátria, Família: a Trilogia da Educação Nacional”
 A última lição de Salazar é uma admirável síntese da pedagogia e moral salazaristas: o lar perfeito, rústico, humilde, analfabeto, patriarcal, cristão. É a defesa da saudável e simples vida do campo, por oposição aos vícios da vida urbana. O mundo perfeito, sem violência, sem vícios, sem protestos, ordenado, representando uma ordem económica, política e social que o Estado Novo considerava perfeitas.

Estes cartazes integravam uma estratégia de inculcação de valores por parte do Estado Novo. Durante muitos anos, estes cartazes didácticos foram utilizados como forma de transmitir uma ideia central: a superioridade de um Estado forte e autoritário sobre os regimes demoliberais.

A escola é o palco privilegiado para a inculcação dos valores transmitidos pelo Estado Novo. Os manuais escolares, livros únicos para o então Ensino Primário, criteriosamente seleccionados pelo Ministério da Educação Nacional e adoptados por vários anos, revelam múltiplos exemplos desses valores: a glorificação da obra do Estado Novo e do seu líder, Salazar; papel subalterno da mulher, limitada à função de esposa e mãe; caridade, a catequese, a história gloriosa da pátria, que transforma Portugal na mais bela nação do mundo.
A data nunca mereceria a distinção de ser celebrada da forma como aquela outra que marcou a sua ascensão ao poder: 27 de Abril de 1928. Poderia ter sido, apenas, mais um ministro das finanças mas, pelas condições por si impostas e superiormente aceites, seria Salazar, de facto, a determinar a política do governo da ditadura militar.
Em 1938, o Ministério da Educação Nacional decide superiormente que todas as escolas do País deverão comemorar o décimo aniversário de tão solene data, encomendando uma série de sete cartazes intitulados A Lição de Salazar, que mandou litografar na Bertrand & Irmão Lda., a mais importante empresa do ramo. Por orientação ministerial, os cartazes teriam de servir de base à lição do dia e todos os assuntos seriam leccionados a partir deles, que seriam colocados sobre o quadro preto. O cuidado chegou ao ponto de os cartazes medirem 1,12m x 0,78m e as dimensões oficiais dos quadros pretos serem de 1,20m x 0,9m! Adoptou-se a mesma estrutura para os seis primeiros cartazes: no canto superior esquerdo, em tons esbatidos, imagens daquilo que é apresentado como o 'antes' de Salazar, que todos identificam como a I República, mas ninguém quer nomear (aliás, o estudo desse tempo foi banido dos programas de História). Em baixo, um pequeno texto explicativo do que foram as realizações do ditador e, a dominar o conjunto, imagem harmoniosa e bastamente colorida que ilustra a legenda. O último cartaz da série, síntese notável da trilogia do ditador, é o único que escapa a esta estrutura e é o mais colorido do conjunto. Hoje, olho para esse cartaz e surpreendo-me com as incoerências: a mãe serve a refeição feita num lume que não existe; o pai que entra, asseadíssimo depois de passar a manhã a cavar a terra; objectos e alfaias agrícolas, imaculados, pendurados na parede; a filha que brinca com brinquedos acessíveis a poucos; a abundância mentirosa presente naquela cozinha revestida de panos brancos. Hoje, pergunto-me como é que as crianças das aldeias beirãs, transmontanas e alentejanas ouviam a prelecção do professor.

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