sábado, 28 de dezembro de 2013

"Aos 30 anos da Revolução... As palavras do nosso Presidente da República"

"Aos 30 anos da Revolução... As palavras do nosso Presidente da República" 

Uma entrevista para assinalar o 30.º aniversário do 25 de Abril. (…) 

Jornal de Notícias: O senhor presidente tinha 34 anos no 25 de Abril. Como olha hoje para homens e mulheres com essa idade que, naturalmente, tem uma vivência muito diferente da que era a sua? 
Jorge Sampaio: Olho-os de uma forma muito esperançosa. No fundo, é muito bom que a liberdade se tenha tornado um dado da Vida e que nós possamos dizer que ela não deve ser estática, que deve ser dinâmica, que existe. É importante o facto de a liberdade se ter transforma do numa coisa que faz parte do nosso dia-a-dia, que nós já não concebemos de outra maneira. Tenho a tese de que não estamos num momento das grandes epopeias, pelo contrário, e, portanto, somos uma democracia normal, com grandes falhas e muitas coisas boas. É um percurso, visto retrospectivamente, extraordinário, que eu com 34 anos não admitiria que iria testemunhar com esta velocidade. 
E verdade que, hoje, precisamos, de maior participação; de maior empenhamento; de uma vida política mais transparente e mais ativa. Mas tenho uma visão positiva sobre muitas pessoas com 30 anos que chegam a sítios de excelência com muita representatividade, que são muito competitivos com os -seus congéneres na comunidade europeia. 
Acho que Portugal sofreu uma magnífica recuperação. O que não resolveu, ainda, foi as grandes assimetrias, que persistem, a iliteracia, que existe, a diferença social, tão evidente. O quotidiano é, de facto, muito difícil, não apenas para as pessoas que estão longe dos centros mas também para quem vive nas periferias das grandes cidades, do Porto e de Lisboa. É um quotidiano muito difícil, mesmo para a classe média. Não lhe parece que a questão revolução-evolução foi uma maneira de produzir uma polémica que tomou mais viva a comemoração? Numa comemoração existem sempre várias comemorações.
Penso que é no dia originário, o 25 de Abril, que é um dia extraordinário da nossa história, que nos devemos fixar. Depois, houve as contradições, as perversões e as várias evoluções no processo democrático, que teve vicissitudes e peripécias, nalguns casos bastante difíceis e terríveis. Tenho que dizer às novas gerações que nós sabemos que não faz sentido ter uma visão estática e passadista da História. Nós, os mais velhos, não temos nenhuma superioridade por termos vivido naquela época. Tivemos, isso sim, a felicidade de viver aquele dia e a experiência do processo subsequente.
 E nesse processo houve riscos, aventuras, dificuldades. Pouco a pouco, lá conseguimos consolidar o fundamental. O país, desde então, teve uma longa evolução. Acho que é o futuro que devemos debater e é também nisso que eu tento colocar a reflexão. O passado só interessa quando o sabemos ler com os olhos do futuro. Até um canal de televisão passou, há dias, umas entrevistas com ex-pides, que falaram sobre o que é Portugal actualmente. Essa é a superioridade da Democracia. O essencial é termos tido aquela ruptura, manifestamente foi uma ruptura, que iniciou a Democracia. 
Depois disso, o 25 de Abril deve celebrar-se como uma data de todos os portugueses que nela se reconhecem, reconhecendo-se na liberdade que ela nos trouxe. Do passado, devemos ter memória e tirar ensinamento. O fundamental é que os mais novos saibam que há 30 anos não se podia escrever livremente, as reuniões eram clandestinas, havia prisões políticas. Convém não esquecer, mas é olhando o futuro que se cumpre o 25 de Abril, pois foi em nome do futuro que ele se realizou e nos empolgou. 

Fonte: Jornal de Notícias, 25 de Abril de 2004 


1.Debater com base na entrevista de Jorge Sampaio: ?25 de Abril = LIBERDADE ? que caminhos percorridos 30 anos depois?

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