"Aos 30 anos da Revolução... As palavras do nosso Presidente da República"
Uma entrevista para assinalar o 30.º aniversário do 25 de Abril. (…)
Jornal de Notícias: O senhor presidente tinha 34 anos no 25 de Abril. Como olha hoje para homens e mulheres com essa idade que, naturalmente, tem uma vivência muito diferente da que era a sua?
Jorge Sampaio: Olho-os de uma forma muito esperançosa. No fundo, é muito bom que a liberdade se tenha tornado um dado da Vida e que nós possamos dizer que ela não deve ser estática, que deve ser dinâmica, que existe. É importante o facto de a liberdade se ter transforma do numa coisa que faz parte do nosso dia-a-dia, que nós já não concebemos de outra maneira. Tenho a tese de que não estamos num momento das grandes epopeias, pelo contrário, e, portanto, somos uma democracia normal, com grandes falhas e muitas coisas boas. É um percurso, visto retrospectivamente, extraordinário, que eu com 34 anos não admitiria que iria testemunhar com esta velocidade.
E verdade que, hoje, precisamos, de maior participação; de maior empenhamento; de uma vida política mais transparente e mais ativa. Mas tenho uma visão positiva sobre muitas pessoas com 30 anos que chegam a sítios de excelência com muita representatividade, que são muito competitivos com os -seus congéneres na comunidade europeia.
Acho que Portugal sofreu uma magnífica recuperação. O que não resolveu, ainda, foi as grandes assimetrias, que persistem, a iliteracia, que existe, a diferença social, tão evidente. O quotidiano é, de facto, muito difícil, não apenas para as pessoas que estão longe dos centros mas também para quem vive nas periferias das grandes cidades, do Porto e de Lisboa. É um quotidiano muito difícil, mesmo para a classe média. Não lhe parece que a questão revolução-evolução foi uma maneira de produzir uma polémica que tomou mais viva a comemoração? Numa comemoração existem sempre várias comemorações.
Penso que é no dia originário, o 25 de Abril, que é um dia extraordinário da nossa história, que nos devemos fixar. Depois, houve as contradições, as perversões e as várias evoluções no processo democrático, que teve vicissitudes e peripécias, nalguns casos bastante difíceis e terríveis. Tenho que dizer às novas gerações que nós sabemos que não faz sentido ter uma visão estática e passadista da História. Nós, os mais velhos, não temos nenhuma superioridade por termos vivido naquela época. Tivemos, isso sim, a felicidade de viver aquele dia e a experiência do processo subsequente.
E nesse processo houve riscos, aventuras, dificuldades. Pouco a pouco, lá conseguimos consolidar o fundamental. O país, desde então, teve uma longa evolução. Acho que é o futuro que devemos debater e é também nisso que eu tento colocar a reflexão. O passado só interessa quando o sabemos ler com os olhos do futuro. Até um canal de televisão passou, há dias, umas entrevistas com ex-pides, que falaram sobre o que é Portugal actualmente. Essa é a superioridade da Democracia. O essencial é termos tido aquela ruptura, manifestamente foi uma ruptura, que iniciou a Democracia.
Depois disso, o 25 de Abril deve celebrar-se como uma data de todos os portugueses que nela se reconhecem, reconhecendo-se na liberdade que ela nos trouxe. Do passado, devemos ter memória e tirar ensinamento. O fundamental é que os mais novos saibam que há 30 anos não se podia escrever livremente, as reuniões eram clandestinas, havia prisões políticas. Convém não esquecer, mas é olhando o futuro que se cumpre o 25 de Abril, pois foi em nome do futuro que ele se realizou e nos empolgou.
Fonte: Jornal de Notícias, 25 de Abril de 2004
1.Debater com base na entrevista de Jorge Sampaio: ?25 de Abril = LIBERDADE ? que caminhos percorridos 30 anos depois?
Uma entrevista para assinalar o 30.º aniversário do 25 de Abril. (…)
Jornal de Notícias: O senhor presidente tinha 34 anos no 25 de Abril. Como olha hoje para homens e mulheres com essa idade que, naturalmente, tem uma vivência muito diferente da que era a sua?
Jorge Sampaio: Olho-os de uma forma muito esperançosa. No fundo, é muito bom que a liberdade se tenha tornado um dado da Vida e que nós possamos dizer que ela não deve ser estática, que deve ser dinâmica, que existe. É importante o facto de a liberdade se ter transforma do numa coisa que faz parte do nosso dia-a-dia, que nós já não concebemos de outra maneira. Tenho a tese de que não estamos num momento das grandes epopeias, pelo contrário, e, portanto, somos uma democracia normal, com grandes falhas e muitas coisas boas. É um percurso, visto retrospectivamente, extraordinário, que eu com 34 anos não admitiria que iria testemunhar com esta velocidade.
E verdade que, hoje, precisamos, de maior participação; de maior empenhamento; de uma vida política mais transparente e mais ativa. Mas tenho uma visão positiva sobre muitas pessoas com 30 anos que chegam a sítios de excelência com muita representatividade, que são muito competitivos com os -seus congéneres na comunidade europeia.
Acho que Portugal sofreu uma magnífica recuperação. O que não resolveu, ainda, foi as grandes assimetrias, que persistem, a iliteracia, que existe, a diferença social, tão evidente. O quotidiano é, de facto, muito difícil, não apenas para as pessoas que estão longe dos centros mas também para quem vive nas periferias das grandes cidades, do Porto e de Lisboa. É um quotidiano muito difícil, mesmo para a classe média. Não lhe parece que a questão revolução-evolução foi uma maneira de produzir uma polémica que tomou mais viva a comemoração? Numa comemoração existem sempre várias comemorações.
Penso que é no dia originário, o 25 de Abril, que é um dia extraordinário da nossa história, que nos devemos fixar. Depois, houve as contradições, as perversões e as várias evoluções no processo democrático, que teve vicissitudes e peripécias, nalguns casos bastante difíceis e terríveis. Tenho que dizer às novas gerações que nós sabemos que não faz sentido ter uma visão estática e passadista da História. Nós, os mais velhos, não temos nenhuma superioridade por termos vivido naquela época. Tivemos, isso sim, a felicidade de viver aquele dia e a experiência do processo subsequente.
E nesse processo houve riscos, aventuras, dificuldades. Pouco a pouco, lá conseguimos consolidar o fundamental. O país, desde então, teve uma longa evolução. Acho que é o futuro que devemos debater e é também nisso que eu tento colocar a reflexão. O passado só interessa quando o sabemos ler com os olhos do futuro. Até um canal de televisão passou, há dias, umas entrevistas com ex-pides, que falaram sobre o que é Portugal actualmente. Essa é a superioridade da Democracia. O essencial é termos tido aquela ruptura, manifestamente foi uma ruptura, que iniciou a Democracia.
Depois disso, o 25 de Abril deve celebrar-se como uma data de todos os portugueses que nela se reconhecem, reconhecendo-se na liberdade que ela nos trouxe. Do passado, devemos ter memória e tirar ensinamento. O fundamental é que os mais novos saibam que há 30 anos não se podia escrever livremente, as reuniões eram clandestinas, havia prisões políticas. Convém não esquecer, mas é olhando o futuro que se cumpre o 25 de Abril, pois foi em nome do futuro que ele se realizou e nos empolgou.
Fonte: Jornal de Notícias, 25 de Abril de 2004
1.Debater com base na entrevista de Jorge Sampaio: ?25 de Abril = LIBERDADE ? que caminhos percorridos 30 anos depois?
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