quarta-feira, 31 de julho de 2013

Três pancadas à porta da Europa dos Nove (1977) e Discurso de Giulio Andreotti* na cerimónia de adesão de Portugal à CEE (Junho de 1985)

Três pancadas à porta da Europa dos Nove (1977)
A opinião de um jornalista

Atenas, Lisboa e Madrid empurram com toda a força a sua candidatura à CEE […].
Mário Soares, em visita às capitais europeias desde Fevereiro, sabe que o seu dossiê é mau: 10% de desemprego, enorme endividamento público, reservas que se derretem. Estima-se que só o investimento estrangeiro e o crédito [...] podem inverter a situação.
É precisamente isso o que os Portugueses pedem a Bruxelas. Sousa Franco, do Partido Social--Democrata, declara:
«É preciso rejeitar as afirmações segundo as quais, tecnicamente, a nossa adesão não é possível nem hoje nem amanhã. [...] A CEE quer ajudar os países mais pobres, ou fechar-se sob a capa, egoísta e caduca, do livre-cambismo sem solidariedade? Eis a questão.»

 O. Lorsignol, «Trois coups frappés à la porte des neuf», Vision, n.º 76, Março, 1977


Discurso de Giulio Andreotti* na cerimónia de adesão
de Portugal à CEE (Junho de 1985)

“Esta adesão contribui para uma maior coincidência entre a Europa geográfica e a Europa política e institucional; e ao mesmo tempo prova, mais uma vez, que a adesão à Comunidade Europeia é o corolário da reconquista dos valores inerentes a uma democracia pluralista. […]
Quando este país se candidatou à Comunidade Europeia, em 1977, razões políticas fundamentais tais como a consolidação de uma democracia que, ainda no berço, tinha sido ameaçada de regressão – pareciam impor a resposta positiva da Comunidade. Hoje, quando – no fim de um longo processo de negociações – Portugal se torna membro de uma Comunidade a Doze, podemos dizer que foram os Portugueses que aceleraram, pelas suas próprias mãos, as salvaguardas democráticas.
Verificamos, com efeito, que o Estado democrático português é sólido e que a sua contribuição para a família democrática europeia é segura.
Pela sua parte, a Comunidade está em condições de proporcionar a Portugal uma nova dimensão política e económica, na qual poderá encontrar o lugar que lhe pertence pela sua história, a sua cultura e as suas tradições.
Assim, os laços históricos, culturais e económicos de Portugal com a América Latina, a África e mesmo a Ásia representam um contributo importante à acção que a Comunidade empreendeu para criar, sobretudo nas zonas onde reina uma tensão internacional importante, as condições necessárias a novos equilíbrios e a novas oportunidades de paz.”

*Presidente do Conselho de Ministros Europeus, à data do discurso.

G. Andreotti, Bulletin des Communautés Européennes, n.º 6, Junho, 1985

1. Explicite as razões que conduziram à aceitação pela CEE, na década de 80 do século XX, dos novos países membros
2. Identifique, com recurso ao documento, os problemas económicos que Portugal esperava resolver com a sua adesão à CEE.
3. Justifique a confiança que o autor do documento  deposita na democracia portuguesa
4. Analise a evolução das relações externas portuguesas, no período de 1974 a 1986.
– a concretização da opção europeia e atlântica.

Razões:
– reforço geoestratégico da Comunidade pelo alargamento aos novos países da Europa do Sul – Grécia, Portugal e Espanha (doc. 4);
– solidariedade da Europa comunitária com os países mais pobres ;
– consolidação da democracia pluralista nos três países ;
– relevância das relações externas portuguesas para a acção da Comunidade no Mundo.

Problemas:
– elevada taxa de desemprego;
– dívida pública elevada;
– redução progressiva das reservas financeiras;
– falta de investimento;
– desfasamento da economia portuguesa relativamente aos padrões de desenvolvimento dos países da Comunidade.
– dificuldades de instauração da democracia em Portugal, no período revolucionário, mas opção final pela democracia pluralista, saudada pela Comunidade Europeia.
Razões justificativas:
– consagração do regime democrático em Portugal com a promulgação da
Constituição de 1976 e a revisão constitucional de 1982;
– apaziguamento dos conflitos políticos e sociais do período revolucionário;
– normal funcionamento das instituições democráticas.

A concretização da opção europeia e atlântica
Clarificação da política externa, no período constitucional:
– assunção de Portugal como país ocidental, simultaneamente europeu e atlântico; reforço das relações bilaterais com os EUA – renovação do Acordo das Lajes – e da participação de Portugal na NATO ;
– pedido de adesão à CEE e posterior integração, opção estratégica fundamentada na necessidade de consolidar a democracia pluralista e de garantir a modernização e o desenvolvimento económico com a ajuda comunitária.

Complementaridade das vertentes europeia e atlântica – valorização da posição de Portugal na CEE e no Atlântico Sul, como intermediário privilegiado entre a Europa e os países de expressão portuguesa.

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