quarta-feira, 3 de julho de 2013

DUAS VISÕES DISTINTAS SOBRE O PREC


Visão de Mário Soares sobre o processo revolucionário em 1974-1975
             (debate televisivo – 6 de novembro de 1975)
O PS tem defendido sempre a posição de que é vital alargar o bloco social de apoio à Revolução. [...] É necessário que os três maiores partidos do país, que têm estado desde o princípio associados ao processo iniciado com o 25 de Abril – o PS, o PPD e o PCP –, se mantenham ligados através de um projeto comum que vise a instauração da democracia em Portugal. [...] Depois do 25 de Abril, os comunistas foram recebidos de braços abertos por toda a parte. [...] Mas quando se viu a sua atuação prática, [...] incapazes de dialogar, incapazes de respeitar as regras da democracia, começou-se a gerar um grande antagonismo na população portuguesa. [...] O PS é um partido de esquerda, quer instaurar em Portugal uma sociedade socialista, uma sociedade sem classes, mas em liberdade, respeitando os direitos do homem, através da democracia e do consenso maioritário. E o PC deu provas, durante estes meses, de que quer transformar este país numa ditadura. [...] Sempre que o PC teve a possibilidade de se infiltrar, de uma maneira ou de outra, em órgãos de comunicação social, procedeu de maneira a esmagar todas as outras correntes de opinião e a fazer uma verdadeira manipulação da informação. [...] Temos de fazer com que os meios de imprensa, sobretudo aqueles que são estatizados, estejam abertos a toda a gente. [...] Nós somos partidários da Reforma Agrária! [...] Mas nós não queremos desorganizar a produção. [...] As expropriações quase nunca foram feitas por trabalhadores [...]; venderam os gados de qualquer maneira, venderam as alfaias agrícolas [...]. Vamos porventura assistir a esta situação: o produto agrícola anual era muito baixo em Portugal e temo que não vá aumentar este ano e, pelo contrário, vá diminuir.

Visão de Álvaro Cunhal sobre o processo revolucionário em 1974-1975
              (debate televisivo – 6 de novembro de 1975)
A Revolução portuguesa faz-se fundamentalmente em benefício das classes trabalhadoras [...]. A nossa responsabilidade histórica como partido da classe operária é em relação aos trabalhadores portugueses, à classe operária e às camadas laboriosas. [...] O PS tem neste momento uma grande responsabilidade histórica: ou vai com as forças progressistas, com as forças de esquerda, com as forças da Revolução, ou continua essa aliança com a direita. [...] O Partido Comunista, em todos os momentos capitais da defesa das liberdades em Portugal, antes e depois do 25 de Abril, tem mostrado o seu apego às liberdades [...]. Em Portugal, o ódio aos comunistas está a ser semeado em todo o lado. Não me consta que nos comícios do Partido Comunista se peça a morte dos socialistas e tão-pouco se vê, depois de uma manifestação do Partido Comunista, saírem homens com umas mechas e uns cocktails molotov para incendiarem as sedes do Partido Socialista. [...] O PS quer liberdades, mas socialismo é que não quer. [...] Nós queremos um Portugal democrático, e é em amplas liberdades democráticas que temos de realizar as reformas sociais, políticas e económicas que abram caminho para o socialismo. Portanto, não queremos a instauração de um regime unipartidário. [...] Mas o PS parece [...] querer um regime de democracia burguesa, que continuaria a ter o domínio dos monopólios ou do grande capital e dos agrários. [...] Um dos méritos da Revolução portuguesa foi a política de descolonização. No fundamental, a independência dos povos da Guiné-Bissau, de Moçambique, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe foi o resultado da luta corajosa e heroica desses povos pela sua liberdade e pela sua independência. [...] Não vemos imparcialidade [...] nos sectores de informação do Estado onde o PS tem tido cargos proeminentes. [...] [Quanto à Reforma Agrária,] temos toda uma obra criadora e de transformação e diz-se que estão a desorganizar a produção agrícola. [...] Ninguém pode pôr em causa o espírito de sacrifício, o trabalho criador dos trabalhadores alentejanos na transformação dessa agricultura atrasada, rudimentar, de miséria, de desemprego, numa nova agricultura que, em algumas regiões, [...] já resolveu problemas como o desemprego [...], e a produção aumentou consideravelmente.

Doc. 2 – Visão de Mário Soares sobre o processo revolucionário em 1974-1975 (debate televisivo – 6 de novembro de 1975)

Doc. 3 – Visão de Álvaro Cunhal sobre o processo revolucionário em 1974-1975 (debate televisivo – 6 de novembro de 1975)

Doc. 2 – In Diário de Lisboa, 8 de novembro de 1975 (adaptado)
Doc. 3 – In Diário de Lisboa, 8 de novembro de 1975 (adaptado

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