Visão de Mário Soares sobre o processo revolucionário em 1974-1975
(debate televisivo – 6 de novembro de 1975)
O PS tem defendido sempre a posição de que é vital alargar o bloco social de apoio à Revolução.
[...] É necessário que os três maiores partidos do país, que têm estado desde o princípio associados
ao processo iniciado com o 25 de Abril – o PS, o PPD e o PCP –, se mantenham ligados através de
um projeto comum que vise a instauração da democracia em Portugal. [...]
Depois do 25 de Abril, os comunistas foram recebidos de braços abertos por toda a parte. [...] Mas
quando se viu a sua atuação prática, [...] incapazes de dialogar, incapazes de respeitar as regras da
democracia, começou-se a gerar um grande antagonismo na população portuguesa. [...]
O PS é um partido de esquerda, quer instaurar em Portugal uma sociedade socialista, uma sociedade
sem classes, mas em liberdade, respeitando os direitos do homem, através da democracia e do consenso
maioritário. E o PC deu provas, durante estes meses, de que quer transformar este país numa ditadura.
[...] Sempre que o PC teve a possibilidade de se infiltrar, de uma maneira ou de outra, em órgãos
de comunicação social, procedeu de maneira a esmagar todas as outras correntes de opinião e a
fazer uma verdadeira manipulação da informação. [...] Temos de fazer com que os meios de imprensa,
sobretudo aqueles que são estatizados, estejam abertos a toda a gente. [...]
Nós somos partidários da Reforma Agrária! [...] Mas nós não queremos desorganizar a produção.
[...] As expropriações quase nunca foram feitas por trabalhadores [...]; venderam os gados de qualquer
maneira, venderam as alfaias agrícolas [...]. Vamos porventura assistir a esta situação: o produto
agrícola anual era muito baixo em Portugal e temo que não vá aumentar este ano e, pelo contrário, vá
diminuir.
Visão de Álvaro Cunhal sobre o processo revolucionário em 1974-1975
(debate televisivo – 6 de novembro de 1975)
A Revolução portuguesa faz-se fundamentalmente em benefício das classes trabalhadoras [...].
A nossa responsabilidade histórica como partido da classe operária é em relação aos trabalhadores
portugueses, à classe operária e às camadas laboriosas. [...] O PS tem neste momento uma grande
responsabilidade histórica: ou vai com as forças progressistas, com as forças de esquerda, com as
forças da Revolução, ou continua essa aliança com a direita. [...]
O Partido Comunista, em todos os momentos capitais da defesa das liberdades em Portugal,
antes e depois do 25 de Abril, tem mostrado o seu apego às liberdades [...]. Em Portugal, o ódio
aos comunistas está a ser semeado em todo o lado. Não me consta que nos comícios do Partido
Comunista se peça a morte dos socialistas e tão-pouco se vê, depois de uma manifestação do Partido
Comunista, saírem homens com umas mechas e uns cocktails molotov para incendiarem as sedes
do Partido Socialista. [...] O PS quer liberdades, mas socialismo é que não quer. [...] Nós queremos
um Portugal democrático, e é em amplas liberdades democráticas que temos de realizar as reformas
sociais, políticas e económicas que abram caminho para o socialismo. Portanto, não queremos a
instauração de um regime unipartidário. [...] Mas o PS parece [...] querer um regime de democracia
burguesa, que continuaria a ter o domínio dos monopólios ou do grande capital e dos agrários. [...]
Um dos méritos da Revolução portuguesa foi a política de descolonização. No fundamental, a
independência dos povos da Guiné-Bissau, de Moçambique, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe
foi o resultado da luta corajosa e heroica desses povos pela sua liberdade e pela sua independência. [...]
Não vemos imparcialidade [...] nos sectores de informação do Estado onde o PS tem tido cargos
proeminentes. [...]
[Quanto à Reforma Agrária,] temos toda uma obra criadora e de transformação e diz-se que
estão a desorganizar a produção agrícola. [...] Ninguém pode pôr em causa o espírito de sacrifício,
o trabalho criador dos trabalhadores alentejanos na transformação dessa agricultura atrasada,
rudimentar, de miséria, de desemprego, numa nova agricultura que, em algumas regiões, [...] já
resolveu problemas como o desemprego [...], e a produção aumentou consideravelmente.
Doc. 2 – Visão de Mário Soares sobre o processo revolucionário em
1974-1975 (debate televisivo – 6 de novembro de 1975)
|
Doc. 3 – Visão de Álvaro Cunhal sobre o processo revolucionário em
1974-1975 (debate televisivo – 6 de novembro de 1975)
|
Doc. 2
– In Diário de Lisboa, 8 de
novembro de 1975 (adaptado)
|
Sem comentários:
Enviar um comentário