OS EUA E A REPÚBLICA POPULAR DA CHINA NO MUNDO ATUAL
Declarações do presidente Clinton* em Pequim (27 de junho de 1998)
Falo-vos hoje de Pequim. Em apenas dois dias, vi uma parte da riqueza histórica e das
notáveis mudanças que estão a ocorrer na China, pátria de quase um quarto da população
mundial.
A China é a civilização mais antiga da Terra. Na sexta-feira, vi a velha e a nova China, desde
os magníficos guerreiros de terracota esculpidos por artesãos mais de 2000 anos antes da
fundação da América, até ao início da democracia numa aldeia próxima, cujos residentes vão
brevemente realizar eleições.
Emocionei-me com a calorosa receção que me foi dispensada, assim como à minha família
e aos membros do Congresso que viajam connosco. Dezenas de milhares de famílias chinesas
alinharam-se nas ruas para nos cumprimentarem. Para todas estas pessoas, a China está a
mudar. Vejo telemóveis, beepers, novos edifícios de escritórios.
A China já não é o país que era quando o presidente Nixon** aqui veio pela primeira vez,
há 26 anos. Nunca antes tiveram tantos chineses a oportunidade de iniciarem negócios; de
arrancarem as suas famílias à pobreza; de escolherem os locais para viver, trabalhar, viajar;
de tirarem proveito dos frutos do seu trabalho. Mas também há resistência à mudança, um
legado da História, que nem sempre tem sido bondosa para o povo chinês, o que deu origem
a um profundo receio de instabilidade. Hoje, em Pequim, vou reunir-me com líderes chineses
para falarmos sobre o futuro dos nossos dois países, e a relação entre nós é fundamental para
a existência, no próximo século, de um mundo pacífico, estável e próspero. Falámos já sobre
os interesses mútuos dos Estados Unidos e da China: a promoção da paz na Coreia, onde
40 000 soldados norte-americanos ainda arriscam as suas vidas a patrulharem a última
fronteira da Guerra Fria; a prevenção de uma corrida às armas nucleares por parte da Índia
e do Paquistão; [...] a interrupção da expansão de armas nucleares, químicas e biológicas e
dos respetivos mísseis de lançamento; o combate ao crime internacional [...] e a abertura do
comércio.
Também falámos abertamente sobre as nossas diferenças, especialmente no que diz
respeito aos direitos humanos. No último ano, assistimos a algum progresso, ainda que
largamente insuficiente, nesta área. Alguns dos mais famosos prisioneiros políticos da China
foram libertados, mas outros ainda continuam privados de liberdade. O governo está a afrouxar
o seu controlo sobre muitos aspetos da vida quotidiana mas, ainda assim, as pessoas não
têm total liberdade de reunião, liberdade de imprensa, liberdade de expressão, liberdade de
religião [...].
No decurso desta viagem, darei relevo aos direitos humanos e tentarei explicar como a
liberdade tem estado no centro do sucesso e da prosperidade norte-americanos. Argumentarei
que, nesta era global de informação, em que o sucesso económico se constrói com base nas
ideias, a liberdade individual é necessária à inovação e à criatividade, suportes da grandeza
de qualquer nação moderna. [...]
A China, com a maior população do planeta, com um lugar permanente no Conselho
de Segurança das Nações Unidas e com uma economia cada vez mais ligada à nossa, é
importante para o nosso futuro. Sem a China será difícil enfrentar, com sucesso, os desafios
que nos afetam a todos.
* Presidente dos EUA (1993-2001).
** Presidente dos EUA (1969-1974).
1. Explique, a partir do documento, três das características da economia chinesa que levaram o presidente Clinton
a afirmar: «A China já não é o país que era quando o presidente Nixon aqui veio pela primeira vez» (linha 12).
2. Refira três das prioridades da política externa dos EUA enunciadas pelo presidente Clinton.
1.Na resposta, são explicadas claramente, a partir do documento, três das seguintes
características da economia chinesa que levaram o presidente Clinton a afirmar: «A China já
não é o país que era quando o presidente Nixon aqui veio pela primeira vez»:
•• mudanças introduzidas por Deng Xiaoping: conciliação do carácter socialista do regime com práticas
capitalistas OU socialismo de mercado OU política de «um país, dois sistemas»;
•• abertura de Zonas Económicas Especiais (ZEE), com legislação favorável aos negócios OU abertura
à instalação de empresas multinacionais e ao comércio externo OU abandono da autarcia e abertura
ao comércio internacional – «uma economia cada vez mais ligada» à dos EUA (doc.);
•• descoletivização de terras, entregues em regime de arrendamento aos camponeses, que passaram a
poder comercializar livremente os excedentes OU dinamização do mercado interno, pelo que «nunca
antes tiveram tantos chineses a oportunidade de iniciarem negócios […]; de tirarem proveito dos
frutos do seu trabalho» (doc.);
•• substituição da prioridade atribuída à indústria pesada em favor dos produtos de consumo e do
desenvolvimento da tecnologia, incluindo «telemóveis, beepers» (doc.);
•• integração nos circuitos económicos mundiais (FMI OU Banco Mundial OU GATT) e inter-regionais
(APEC) OU liberalização do sector financeiro, com a abertura da bolsa de valores de Xangai;
•• abundância e mobilidade da mão de obra: deslocação de milhões de camponeses para as cidades,
pois «nunca antes tiveram tantos chineses a oportunidade […] de escolherem os locais para viver,
trabalhar» (doc.);
•• integração de Hong Kong e de Macau na soberania chinesa, como regiões económicas e
administrativas especiais, com forte crescimento assente no turismo OU no jogo (OU outro exemplo).
2.Na resposta, são referidas claramente três das seguintes prioridades da política externa dos
EUA enunciadas pelo presidente Clinton:
•• estreitamento das relações com a China, considerando os «interesses mútuos» OU o seu papel político,
«com um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas» OU o seu potencial
humano e económico: «A China, com a maior população do planeta [...] e com uma economia cada
vez mais ligada à nossa, é importante para o nosso futuro»;
•• valorização dos direitos humanos como base «do sucesso e da prosperidade norte-americanos» OU
como «suportes da grandeza de qualquer nação moderna»;
•• defesa dos direitos humanos em todos os locais em que não sejam respeitados, incluindo na China;
•• prevenção da corrida aos armamentos, em particular em regiões de forte tensão internacional, como
«Índia e Paquistão» OU adoção de medidas que inviabilizem a «expansão de armas nucleares,
químicas e biológicas e dos respetivos mísseis de lançamento»;
•• resolução do problema da Coreia, dividida, «onde 40 000 soldados norte-americanos ainda arriscam
as suas vidas a patrulharem a última fronteira da Guerra Fria»;
•• cooperação no âmbito de grandes problemas transnacionais, como «o combate ao crime
internacional».
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