quinta-feira, 25 de julho de 2013

Prova Escrita de História A- 2013 - 2ª Fase- :ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS: HUMBERTO DELGADO CONTRA AMÉRICO TOMÁS

(3)Eleição presidencial de 1958 e situação do país – perspetiva do escritor Aquilino Ribeiro*
(entrevista ao Diário de Lisboa, 2 de junho de 1958)
O meu candidato e o da maioria dos republicanos é o general Humberto Delgado. Devemos-lhe
ter galvanizado a Nação. [...] Soube conquistar a opinião pública. [...] Deitou o medo para trás das
costas. [...]
Se, ao cabo de trinta e dois anos de poder absoluto, [o governo afirma que] há necessidade de
continuar a revolução, [...] é porque não resultaram as políticas adotadas. Não houve, portanto,
nenhuma revolução. Não se entrou numa era nova. O português continua infeliz como nunca. [...]
O que é preciso é apresentar obra, estradas, caminhos de ferro, equipamentos de toda a espécie
dignos do nosso século, portos, moradias higiénicas para as classes menos privilegiadas. [...] Pelo
ritmo do progresso só daqui a cem anos teria Portugal um nível de vida aceitável, uma indústria
comezinha – sempre antiquada em relação à do resto da Europa –, as estradas que ambiciona, os
hospitais em que coubessem os seus enfermos. [...]
Um regime que nos priva das liberdades fundamentais [...] pode equiparar-se a uma escola
de vassalagem. [...] Em Portugal há muitos descontentes, muitos que têm fome, que choram
[...]. Atendendo aos desejos manifestados pela opinião pública, alguma vez o Poder retificou os
seus processos de governar? O Poder do Estado Novo é inalterável, como se tivesse recebido a
omnisciência de Deus. [...] Em geral é a atrofia ou o marasmo. [...] Se o Estado Novo inventou uma
política maravilhosa com o seu corporativismo, com as suas leis restritivas, porque é que as nações
não vêm aprender a governar-se neste eldorado de felicidade e de amor? Porque, pelo contrário,
se riem de nós? [...]
A resposta implícita à interrogação de Oliveira Salazar: – «hei de entregar o Poder à rua?» é
«não, senhor, devolve-o, como havendo cumprido a sua missão, a quem lho confiou: o exército».
O exército depois dirá: é tempo de volver à constitucionalidade.

* Intelectual e escritor (1885-1963). Participou na criação da revista Seara Nova; tem uma obra literária variada e de intervenção política.


(4)Eleição presidencial de 1958 e situação do país – perspetiva do professor João Porto*
(entrevista ao Diário de Lisboa, 2 de junho de 1958)
No domínio da assistência médico-social, a nossa posição tem sempre vindo a melhorar, a partir
dos primeiros anos da atual situação política, e não estamos longe de nos podermos comparar
com os outros países da Europa. [...] No mês passado, um grupo de especialistas da Organização
Mundial de Saúde veio a Portugal estudar a nossa orgânica de Saúde Pública e de Previdência
Social. [...] Visitaram sanatórios, Casas da Criança, colónias de férias, postos das Caixas de
Previdência, Casas do Povo e dos Pescadores, hospitais, etc., isto é, tudo o que pudesse contribuir
para lhes dar ideia do rol de realizações de que Portugal hoje se orgulha, e de todos mereceu
rasgados louvores. [...] No capítulo da previdência [...], percorreram diversos bairros destinados a
classes menos favorecidas [...]. Se, para alguns, Portugal poderia ainda estar paredes meias com
países subevoluídos, o certo é que se despediram levando consigo noção clara do que valemos e
possuímos no concerto das nações europeias. [...]
A multiplicidade dos partidos conduz à multiplicação de opiniões e de pareceres nos órgãos de
soberania, à desorientação da opinião pública, ao enfraquecimento da autoridade e à instabilidade
governamental. Ora, só a estabilidade governamental traz consigo o equilíbrio da ordem e a garantia
da liberdade e da segurança social. E é sobre esta que assenta a tranquilidade dos espíritos e a
prosperidade material [...].
O contra-almirante Américo Tomás [...] dá-nos a certeza de que possui todas as condições
para, uma vez na suprema magistratura da Nação, ser o fiel garante da continuidade duma política
económico-social e de fomento que, sob a égide de Salazar, nos deu já uma obra enorme e que é
promissora de que a obra mais se engrandeça.

* Professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, diretor dos Hospitais da Universidade e deputado da

Assembleia Nacional de 1953 a 1961.

Compare as duas perspetivas acerca da situação de Portugal no contexto da eleição presidencial de 1958,

expressas nos documentos 3 e 4, quanto a três dos aspetos em que se opõem.

Na resposta, são comparadas claramente as duas perspetivas acerca da situação de Portugal
no contexto da eleição presidencial de 1958, expressas nos documentos 3 e 4, apresentando-
-se três dos seguintes aspetos em que se opõem:
•• [sobre o modelo de regime] enquanto no documento 3 – perspetiva de Aquilino Ribeiro – se
denuncia o Estado Novo como uma ditadura «inalterável», no documento 4 – perspetiva de João
Porto – defende-se o regime, considerando-se que uma «multiplicidade» de partidos políticos só traria
a divisão do país e a «desorientação da opinião pública»;
•• [sobre o exercício das liberdades] enquanto no documento 3 se critica o «regime que nos priva das
liberdades fundamentais», no documento 4 refere-se que «a estabilidade governamental traz consigo
o equilíbrio da ordem e a garantia da liberdade»;
•• [sobre a avaliação das políticas do regime] enquanto no documento 3 se constata que existem
«descontentes» e esfomeados e que «o português continua infeliz», o que mostra o fracasso das
políticas do regime, no documento 4 afirma-se que Portugal «tem sempre vindo a melhorar, a partir
dos primeiros anos da atual situação política», nomeadamente, no domínio da assistência social;
•• [sobre o nível de desenvolvimento] enquanto no documento 3 se lamenta o atraso de Portugal e
se defende uma política de desenvolvimento, através da construção de «estradas», de «hospitais» e
de outras infraestruturas, no documento 4 enaltece-se com orgulho a obra já feita pelo Estado Novo,
nomeadamente, na construção de hospitais, de escolas, de Casas do Povo e dos Pescadores e de
bairros sociais;
•• [sobre a imagem do país no exterior] enquanto no documento 3 se refere a crítica internacional
ao modelo político e social do Estado Novo, afirmando-se que os estrangeiros «se riem de nós», no
documento 4 afirma-se que «não estamos longe de nos podermos comparar com os outros países da
Europa» e alude-se aos «rasgados louvores» à obra social do Estado Novo por parte da OMS;
•• [sobre a opção de voto] enquanto no documento 3 se declara o apoio a Humberto Delgado,
candidato «da maioria dos republicanos» e que conquistou «a opinião pública», deitando «o medo
para trás das costas», no documento 4 declara-se o apoio a Américo Tomás, por «ser o fiel garante
da continuidade» da «política económico-social e de fomento» de Salazar;
•• [sobre o futuro político de Salazar] enquanto no documento 3 se defende que Salazar deve entregar
o poder por ter já «cumprido a sua missão», no documento 4 considera-se que a obra «económico-
-social e de fomento», já feita durante o Estado Novo, deve ser continuada e engrandecida sob a
liderança de Salazar.

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