quarta-feira, 3 de julho de 2013

O 25 DE ABRIL E AS OPÇÕES DA POLÍTICA EXTERNA PORTUGUESA

O 25 DE ABRIL E AS OPÇÕES DA POLÍTICA EXTERNA PORTUGUESA
Portugal e Espanha na Comunidade Ibero-Americana, segundo Mário Soares (12 de abril de 2008)

"Vai longe o tempo em que Espanha e Portugal viviam de costas voltadas, não obstante a aliança ideológica firmada entre os dois ditadores peninsulares, Franco e Salazar, expressa no célebre Pacto Ibérico. Mas, por múltiplas razões, os povos peninsulares nunca comunicaram – até talvez porque não estavam, obviamente, sintonizados com os seus chefes –, apesar da estreita colaboração, a nível dos governos, que mantiveram durante a guerra civil espanhola (1936-1939), em que Salazar tão decisivamente auxiliou os fascistas espanhóis, e, depois, pelo menos nos primeiros anos da II Guerra Mundial. Com a Revolução dos Cravos, o 25 de Abril de 1974, tudo mudou. Na verdade, foi uma revolução sem efusão de sangue, pacífica e, apesar de inesperada, para a Europa e o Mundo, constituiu um inegável sucesso, na medida em que realizou todos os seus objetivos: «descolonizar, democratizar e desenvolver». Foi, aliás, saudada com imenso entusiasmo em toda a Espanha e teve uma influência muito positiva na «transição acordada» espanhola, que asseguraria também a democracia, pacificamente, no país vizinho. Mais do que isso: a revolução portuguesa e a transição democrática espanhola tornaram fluidas, natural e quase automaticamente, as relações entre os dois Estados peninsulares e os diversos povos ibéricos. […] A entrada de Espanha e de Portugal para a então CEE […], como membros de pleno direito, favoreceu igualmente as relações entre a Europa e a Ibero-América. […] A Ibero-América tem vindo a sofrer […] uma evolução considerável no sentido de uma certa unidade civilizacional e da integração económica e social. A Ibero-América deixou de ser, nos últimos anos, o «pátio traseiro» da América do Norte. Não só o Brasil, esse país continente, atingiu um nível de desenvolvimento, de progresso e de autonomia económica verdadeiramente surpreendente, como também o México, o Chile, a Argentina e a Venezuela se desenvolveram, para só citar aqueles que se movem na cena internacional com maior autonomia. Ora, a América Latina, além das suas raízes étnicas, que persistem, mantém uma certa unidade civilizacional e linguística que lhe vem do legado ibérico, tendo como línguas principais o castelhano e o português – que podem facilmente comunicar entre si […] e que representam um universo linguístico de cerca de 800 milhões de seres humanos. […] Daí que seja tão decisivamente importante estreitar as relações entre a América Latina e a União Europeia, cabendo aos Estados peninsulares um papel pioneiro nesse domínio. […] Vivemos hoje, graças à entrada dos dois Estados, ao mesmo tempo, na Comunidade Europeia, economias mais ou menos integradas, ambas abertas, tendo políticas e interesses convergentes na União Europeia, no Mediterrâneo, no Atlântico e na […] Comunidade Ibero-Americana. […] Também em África, Portugal pode dar um contributo importante […] através da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). "
Identificação da fonte
In www.fmsoares.pt (consultado em 12/01/2012) (adaptado)

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