sábado, 19 de julho de 2014

Humberto Delgado – o sobressalto político de 1958

Humberto Delgado (1906 – 1965) teve uma carreira militar brilhante. Foi aliciado para a conspiração contra a República a partir do núcleo de implicados no 18 de Abril, que estava preso em Elvas.
As simpatias de Delgado foram para o grupo mais forte e mais conservador dos conspiradores.
Em Maio de 1926, enquanto aluno-piloto em Sintra, conseguiu que a Escola Prática de Infantaria de Mafra aderisse ao 28 de Maio. Durante a ditadura Militar, Humberto Delgado foi um dos típicos jovens tenentes, que apoia o mais forte núcleo dos militares, disposto a todos os sacrifícios para não regressar à República. A grande viragem na vida de Delgado dá-se em fins de 1941, quando Santos Costa o chama para lhe entregar uma missão secreta em Inglaterra: recolher vários dados que permitam a construção de uma base aérea nos Açores. Descobre então que uma democracia pode ser eficiente. A partir de 1944 confirma esta ideia com os EUA, pois é nomeado director do Secretariado de Aeronáutica Civil, o que o leva frequentes vezes aos Estados Unidos. .
Em 1952, Delgado é aprovado com a classificação máxima de Alto-Comando para General. É então nomeado adido militar e do Ar em Washington e representante de Portugal da NATO.
Passa a viver nos Estados Unidos durante cinco anos.
Regressa a Lisboa em 1957, sendo já considerado politicamente perigoso, uma vez que as suas experiências na NATO e o facto de ter vivido nos EUA mudou o seu modo de pensar.
Aproxima-se pouco a pouco dos liberais e é convidado para se candidatar à Presidência. Aos olhos da população, Delgado surgiu como o homem que tinha o apoio dos EUA e de uma parte das Forças Armadas, ou seja, que tinha as condições necessárias para derrubar Salazar. A princípio teve grandes apoios, mas depois todos lhe foram negados. No entanto não tardou a ter o apoio oficial de todos os grupos da oposição. Surgiram grandes revoltas no Porto e em Lisboa.
Mas apesar do largo apoio da população, Delgado não conseguiu ganhar as eleições, dado que os resultados eleitorais foram manipulados em favor do regime.
Passadas as eleições, tornou-se um homem isolado e incómodo para praticamente todas as forças políticas que o apoiaram e também para os americanos.
O seu desprezo pela mentalidade e métodos portugueses impediu que criasse uma organização própria estável, enquanto a falta de um forte grupo liberal o obrigou a colaborar minimamente com o PCP.
O regime procurou inicialmente neutralizar o “general sem medo” de forma discreta. Humberto Delgado exilou-se no Brasil, tornando-se um homem amargurado e desiludido, não só com o regime, mas também com os militares, a oposição e a mentalidade portuguesa.
Após ter viajado por Argélia, Itália e França, foi assassinado às mãos do regime, perto de Badajoz.

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