domingo, 4 de maio de 2014

NEOLIBERALISMO

Sobre as origens do neoliberalismo


A recente e aguda crise europeia tem levantado algumas questões a respeito do papel do Estado sobre a economia. As tais “medidas de austeridade” remontam às políticas neoliberais que tanto oneraram o mundo, principalmente em termos sociais, nas últimas décadas. Neste texto, vamos nos atentar às origens do neoliberalismo, para podermos entender melhor seus efeitos e resultados na atualidade. Para tanto, nos basearemos no texto Balanço do Neoliberalismo, de Perry Anderson (1995). O liberalismo clássico caminhou, aos trancos e barrancos, até o início do século passado, quando faliu junto com a quebra da bolsa de Nova York, culminando na crise de 1929. A partir de então, a política mundial passou a ser orientada pelo keynesianismo; um exemplo é o pacote do New Deal, do presidente estadunidense Franklin Roosevelt.

 Em 1944, é lançada a obra – considerada o “manifesto do neoliberalismo” – O caminho da servidão, do austríaco Friedrich Hayek.
Fazendo uma analogia entre a social-democracia inglesa e o nazismo alemão, Hayek defendia que limitações aos mecanismos de mercado por parte do Estado levavam ao cerceamento de liberdades, não só económicas como também políticas. Três anos depois, Hayek convocou uma reunião em Mont Pèlerin (Suíça), na qual participaram intelectuais contrários ao Estado de bem-estar europeu e também os inimigos do New Deal, entre eles o importante economista Milton Friedman.

Da reunião, fundou-se a Sociedade de Mont Pèlerin, com o objetivo de difundir ideias que preparassem para um novo capitalismo, duro e livre de regras para o futuro.
De início, os ideais neoliberais tiveram pouca repercussão, pois o capitalismo mundial vivia uma fase de auge sem precedentes, entre as décadas de 50 e 60.
 Foi a partir da Crise do Petróleo, em 1973, que o jogo virou.
 Milton Friedman (1912-2006): um dos grandes nomes do neoliberalismo, assessorou as reformas neoliberais do Chile e Estados Unidos.
Milton Friedman - O mito do almoço grátis
A cartilha neoliberal, pautada economicamente pela redução da participação do Estado, aumento do livre mercado e da concorrência, e socialmente pelo corte de gastos sociais, repressão às greves e sindicatos, aumento da desigualdade e do desemprego (entendidos como valores imprescindíveis), passou a ser aplicada no final dos anos 70, quando os governos europeus deixaram de tentar remediar a crise económica por remédios keynesianos.
 Os governos pioneiros foram, na Europa, Margaret Thatcher (Inglaterra),Helmut Khol (Alemanha) e Poul Schlüter (Dinamarca). Nas Américas,Augusto Pinochet (Chile) e Ronald Reagan (EUA).

Em contextos de Guerra Fria, na qual o neoliberalismo trouxe também uma versão intransigente de anticomunismo, “a onda de direitização desses anos tinha um fundo político para além da crise económica do período.”
(ANDERSON, 1995, p. 11).

O que fizeram, na prática, esses governos neoliberais?
O exemplo de Thatcher, além de pioneiro, é absolutamente didático.
A chefa de Estado britânica contraiu a emissão monetária, elevou a taxa de juros, baixou os impostos sobre os mais ricos, aboliu controles sobre os fluxos financeiros, criou altos índices de desemprego, reprimiu greves trabalhistas, impôs uma nova legislação anti-sindical e cortou gastos sociais.
Ainda, lançou um amplo programa de privatização, que começou com a habitação pública e passou ao aço, eletricidade, petróleo, gás e água.
 A repressão às greves foi uma grande marca do governo inglês de Margaret Thatcher (1979-1990), que enfrentou ostensivamente o sindicato dos mineiros.
Nos Estados Unidos, onde não havia um Estado de bem-estar nos moldes europeus, Reagan (assessorado por Friedman) tomou como prioridade a competição com a União Soviética.
Apesar de ter reduzido impostos aos ricos e reprimido a única greve série de sua gestão, o presidente não seguiu a contenção do orçamento e aumentou intensamente os gastos militares, criando um déficit público sem precedentes na história norte-americana.
Nos demais governos de direita da Europa, o neoliberalismo foi menos marcado pelos deliberados cortes de gastos sociais ou enfrentamentos aos sindicatos e mais pela disciplina orçamentária e reformas fiscais. Outros governos da Europa, como o francês (Miterrand), espanhol (González), português (Soares) e grego (Papandreou), procuraram seguir uma linha mais progressista.
 A França, apesar de num primeiro momento ter mantido um projeto social-democrata, entre 1982-83 teve de reorientar sua política pelo neoliberalismo.
 Margaret Thatcher
 
Em terras mais remotas, na Austrália e Nova Zelândia o neoliberalismo tomou proporções dramáticas. Neste último, o desmonte do Estado de bem-estar foi ainda mais completo e feroz que o realizado por Thatcher na Inglaterra.
Na América Latina, tem-se o exemplo de Pinochet (também assessorado por Friedman), cujas políticas foram rapidamente mencionadas em outro texto. Além dessa distribuição global, o neoliberalismo tornou-se hegemônico enquanto um projeto político. Uma ideologia que se instalou na política mundial, cujas práticas eram aplicadas até pelos governos auto-proclamados de esquerda. Porém, nem todos os países aderiram completamente ao neoliberalismo: Suécia e Áustria, mesmo no final dos anos 1980, ainda resistiam, assim como o Japão.

Margaret Thatcher (1925-) e Ronald Reagan (1911-2004)
, à frente da Inglaterra e EUA (respectivamente),
 governaram de modo conservador pautados pela cartilha neoliberal.






Milton Friedman (1912-2006): um dos grandes nomes do neoliberalismo, 
assessorou as reformas neoliberais do Chile e Estados Unidos.
Friedrich Hayek (1899-1992): criticando o intervencionismo estatal
 e o Estado de bem-estar social, tornou-se um dos idealizadores do neoliberalismo.

















O neoliberalismo é bastante criticado pois muitos acreditam que a economia neoliberal só beneficia as grandes potências económicas e as empresas multinacionais, que países pobres ou em processo de desenvolvimento acabam sofrendo com os resultados de uma política neoliberal, causando o desemprego, baixos salários, aumento das diferenças sociais e dependência do capital internacional.

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