terça-feira, 24 de junho de 2014

PORTUGAL DESDE O FINAL DA DÉCADA DE 1920 ATÉ MEADOS DA DÉCADA DE 1960: DOS ALICERCES ÀS ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA DO ESTADO NOVO

Uma visão do Estado Novo – manifesto clandestino da oposição (1961)

 Desde 1926 que as Forças Armadas portuguesas sustentam no poder o regime que arrancou à Nação as liberdades públicas fundamentais e os direitos cívicos reconhecidos ao povo pela República. […] Jamais estes e outros factos – como as fraudes cometidas contra as votações em favor do general Humberto Delgado – levaram as altas patentes das Forças Armadas a um momento de reflexão e discordância. […] Portugal, grande potência ultramarina, e podendo por esse facto, ao menos na metrópole, fazer os portugueses desfrutarem de um nível de vida comparável aos padrões europeus, mantinha-se uma vergonha nas estatísticas mundiais: os mais baixos índices de produção e de consumo, as mais baixas médias de rendimento e de salários, de vida económica, social, sanitária e educativa.
O mais pobre país da Europa, como recentemente fomos classificados […]. Os protestos e as manifestações, que a imprensa e a televisão relataram (até com imagens falsificadas) como desagravo às declarações proferidas na ONU, foram organizados, como todos sabem, pelos departamentos oficiais ou conduzidos através de conhecidos processos de coação […]. A ordem e a paz que o Governo dizia haver no ultramar, agora desmentidas pelos sangrentos acontecimentos de Luanda, […] são as mesmas que reinam no continente, a ordem dos submetidos, dos amordaçados e dos reduzidos à miséria, a ordem imposta pela força e pelas polícias, a paz dos vencidos, o silêncio do medo. […]
 Por tudo isto, pergunta-se: porque é que os portugueses haviam de estar indignados contra as críticas da ONU, afinal críticas ao Governo e não a Portugal, quando nenhuma responsabilidade têm na governação e, há muito, eles próprios as fazem mais severas?!

 Manifesto clandestino «A Oposição na Defesa de Portugal e da Verdade»,
in José Magalhães Godinho, Pedaços de Uma Vida, Lisboa, Pégaso Editores, 1992, pp. 47-53 (adaptado)

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